Clube de Campismo do Barreiro

Homenagem

João Rodrigues Lino

Hoje e sempre o nº 1

Nascido no Barreiro em 12 de Fevereiro de 1928, aqui cresceu, estudou e trabalhou.

Tendo como estrutura a mais ampla generosidade e por farol uma inteligência brilhante e luminosa, foi o que em propriedade se pode dizer um cidadão de mão cheia: em tudo foi exemplo, grande artista e grande artífice! Um homem íntegro, vertical, impunha-se com aquela naturalidade que só pertence aos predestinados.

Longa e brilhante carreira profissional fez dele um mestre requisitadíssimo. Trabalhou até ao fim dos seus dias, planeando e concebendo como só os leaders sabem planear e conceber.

Cidadão engajado nas causas da solidariedade, deu a tantas coletividades o perfume do seu empenho: nos Franceses foram quase 75 anos de associado e de entusiasmo activista; no Barreirense forma mais de 50 anos, com muito trabalho na construção do Ginásio; no nosso Clube foi toda a vida do Clube, seu fundador, hoje seu sócio nº 1. Com o compadre Sérgio e o incansável Valeiras formou um triunvirato emérito. Sem eles, o Clube de Campismo do Barreiro não seria o que é, não teria o património disponível que oferece ao apetecido lazer de toda uma população campista.

Dotado de elevada sensibilidade artística, animava as esperadas reuniões festivas, cantando e tocando para gáudio de todos.

E se era necessário elaborar os estatutos da coletividade, era o João Lino a elaborar; se o que se impunha era escrever o guião da revista, era o João Lino quem escrevia. Mas sempre com elevação, finíssimo gozo, aguçadíssimo sentido de humor!

A par, já o disse, era realmente um homem vertical, rigoroso, amigo profundo do seu amigo!

Deixou-nos a 22 de Novembro de 2005, uma Terça feira, bem pela madrugada, como tudo começava para ele. Era frenético na ação. Até para desenhar o seu ponto final. Desde Março que a saúde o punha à prova, insistente e dolorosamente.

A impor-lhe um sofrimento tal que ele não queria manter. De tal maneira que, a 21 de Novembro, ao fim do dia, na sequência do telefonema a indagar de como passava, veio a resposta primeira e única: tinha muitas dores, queria ir ao Hospital, que outro Amigo Querido nos assegurasse atenção e cuidado. E Marcos garantiu que à chegada o João seria prontamente recebido e acompanhado. E assim foi.

Connosco foi a Maria Júlia que tratou das burocracias, enquanto nós aguardávamos o Dr. Camacho; houve um tempo de espera que serviu para um hino à amizade. O que o João disse e nos disse de um afeto de quarenta anos que de nós fizera irmãos! Veio o tratamento que foi bálsamo instantâneo e o breve regresso a casa. E aí nos despedimos na convicção de uma noite reparadora. Puro e doloroso engano!

Reativado um sofrimento atrós, o João voltava ao Hospital. Para aí parar a luta, às primeiras horas de 22 de Novembro. Ele bem me dissera que não queria viver mais se fosse para ser assim, com tal brutalidade e dor.

Partiu a comemorar aquela coletividade de que ele tanto gostava; o Clube em 22 de Novembro.

Podes ter partido fisicamente. Mas encheste de tal maneira a alma de todos nós, os que tivemos o privilégio de contigo ter partilhado pedaços das nossas vidas, que o sopro das tuas cinzas nos adoça o coração e o pensamento. É aqui que continuas, no meio de todos nós, no primeiro lugar, de número um. Nosso companheiro, companheiro eleito.

Bem haja a nossa Direção! Decidiu honrar João Lino dando o seu nome à Casa Abrigo. Medida feliz, de rara oportunidade. Ninguém merecia mais.

Foi uma cerimónia singela, quase a passar despercebida, como o João teria gostado.

Dr. Alves Pereira